Por Ana Luisa Lima
Shima é um artista cujo ‘o fazer’ diz mais respeito ao conectar-se com as coisas do mundo do que torná-las entendidas. Próximos do sensível, avessos ao excesso de discurso, seus trabalhos têm mais um caráter de ritual. Fazem parte de um exercício dedicado a criar passagens por entre fronteiras. Aquele espaço borrado em que o nome pras coisas ficam em estado de vulnerabilidade.
Artista-coletor: de gestos, afetos e símbolos cotidianos. Itens dessa sua coleta comumente são reorganizados em suas ações perfomáticas dando a possibilidade de outras leituras usualmente veladas pelo trivial. Ao redesenhar um gesto, ou ressignificar objetos simbólicos, nos faz participar da política das coisas, refazer a economia dos desejos, desconfiar dos dispositivos das ideologias escondidas na constituição íntima das situações que se repetem dia a dia.
Esse ano o artista celebra dez anos de sua trajetória. E em sua primeira individual na Galeria Mezanino traz dois grupos de trabalhos. Uma série de pinturas e uma série de dobraduras-desenhos. Ambas as séries carregam em si esse constante estado performativo construído pelo artista. “Profusão” é uma série de pinturas que trazem um vocabulário estético que condensa forma-conteúdo escrito por um corpo vibrátil. Cada tela é um registro de um estado de ‘experienciação’. As camadas de tinta são também camadas de tempo. Revelam gestos. E cada gesto guarda uma ato expressivo das coisas que pulsam: dentro e ao seu redor.
As dobraduras-desenhos são uma reinvenção das memórias de criança. Dos desejos e planos de voos. Cada conjunto de dobraduras: um ‘blueprint’ de um avião aperfeiçoado para voos cada vez mais eficientes. As dobraduras transmutam-se em desenhos de uma topografia de lugares imaginários. Essa nova série que ganha a delicadeza dos gestos que demarcam linhas no papel e depois cor, é uma retomada de um grupo de trabalhos em serigrafia de 2013, chamado “Entre Montanhas e Vales”.
Gosto de pensar cada gesto de Shima como um ato performativo que é também uma escrita cumulativa desdobrada em capítulos que ora falam de um sujeito político, ora versam sobre as questões existenciais enquanto indivíduo. Essa sua escritura, porém, está sempre permeada de uma pulsação que se chama: poesia.